quinta-feira, 13 de setembro de 2012
sexta-feira, 27 de julho de 2012
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Mais um desserviço da Globo
deixa isso claro, mas entra na sua casa em horário nobre, pela Globo. Um mau passo da emissora, além de autoritário!
Reinaldo Azevedo
Caros, vai aqui um daqueles textos quilométricos, mas que tratam de uma
questão séria: descriminação das drogas. Uma campanha está em curso na
TV Globo. E eu digo por que ela tem de sair do ar.
*
O meu arquivo está aí. Combato boa
parte das críticas bucéfalas que são feitas à Rede Globo, especialmente
pela esquerda cascuda. No mais das vezes, não passam de tolices
conspiratórias e de chororô de derrotados. Mas a emissora também comete
erros. Ter aderido à campanha "É Preciso Mudar", que defende a
descriminação das drogas — embora o faça de modo oblíquo —, é um erro
colossal. Sobretudo porque, lamento ter de fazer esta consideração, o
telespectador está sendo enganado. Vamos ver. O objetivo é reunir um
milhão de assinaturas para propor uma nova lei sobre drogas. E por que
acuso a burla? Porque o que se quer mesmo é a descriminação das drogas, e isso não fica claro.
Vocês
certamente já assistiram à peça publicitária, exibida nos intervalos da
novela "Avenida Brasil". Deve fzer parte do marketing social da
emissora. Atores representam consumidores de drogas que teriam sido
presos injustamente por tráfico, tendo, então, suas vidas bastante
prejudicadas por aquilo que é tratado como uma "injustiça". O ar
compungido, o olhar sofrido, a postura de vítima… Até parece que estavam plantando uma árvore, ajudando uma velhinha a atravessar a rua ou dando leite pro gatinho quando, de súbito, chegaram os homens da lei, como
numa história de Kafka, e os conduziram para alguma estranha repartidão
do estado repressor. Não! Tratava-se de pessoas envolvidas com as drogas e certamente não ignoravam as possíveis implicações legais. Ocorre que, no Brasil, todos são sempre vítimas — tanto as vítimas de fato como os
seus algozes.
Muito bem! Já
hoje o Brasil não prende o usuário de droga. Aquela Comissão de Juristas que quer mandar para a cadeia quem maltrata um cachorro e liberar o
aborto de humanos, que não merecem ter o status de um cachorro, também
foi absolutamente laxista com o usuário de substâncias ilegais. A
proposta enviada ao Senado, certamente endossada pela turma do "É
preciso mudar", exclui do crime quem (leiam com atenção, em vermelho):
I – adquire, guarda, tem em depósito, transporta ou traz consigo drogas para consumo pessoal;
II – semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de drogas para consumo pessoal.
§3º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz
atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, à conduta,
ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, bem como às
circunstâncias sociais e pessoais do agente.
§4º Salvo prova em contrário, presume-se a destinação da droga para uso
pessoal quando a quantidade apreendida for suficiente para o consumo
médio individual por cinco dias, conforme definido pela autoridade
administrativa de saúde.
Voltei
Entenderam? Se é consumo para cinco dias, tudo bem. Um usuário de crak pode dar conta de até 20 pedras por
dia. Logo, se alguém for pego — quero dizer, "abordado" — com 100
pedras, poderá alegar "uso pessoal". Um fumante regular de maconha
queima quatro ou cinco cigarros diariamente (sim, há quem fume muito
mais), mas vá lá. Quem andasse por aí com erva para 20 cigarros, tudo
bem! O mesmo valeria para papelotes de cocaína, heroína… Ah, mas a
comissão endurece as penas para o narcotráfico! Uau!
Notável
pensamento! Criam-se todas as condições para um aumento da demanda, mas
depois se promete severidade na repressão à oferta! Vai ver os nossos
juristas — e também os notáveis do "É preciso Mudar" — estão dedicados a combater o consumo de drogas pela elevação da inflação do setor, né? É
tudo de um ridículo sem par.
Não deixa claro
A campanha "É Preciso Mudar", veiculada de graça pela Rede
Globo — e isso a torna, lamentavelmente, parceira da iniciativa lunática — não deixa claro o que exatamente tem de ser mudado. Limita-se a
defender uma diferenciação entre o tráfico e o consumo. E aí se leem
essas três pérolas em sua página na Internet (em vermelho). Comento cada uma em azul:
1 – A Lei 11.343/2006, que normatiza a
política de drogas no Brasil não faz distinção clara e objetiva entre
usuário e traficante.
É mentira. A íntegra da lei está aqui. O Artigo 28 deixa claro que ninguém é preso porque apenas consumidor. O máximo que lhe pode acontecer é isto:
"I – advertência sobre os efeitos das drogas;
II – prestação de serviços à comunidade;
III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo."
2 – Desde que a legislação entrou em vigor, dobrou o número de presos por crimes
relacionados às drogas no Brasil. Essa falta de clareza está levando à
prisão milhares de usuários que não são traficantes.
É um raciocínio de um cretinismo à
altura de alguns promotores da campanha — já falarei a quem pertencem as mãos que balançam esse berço. Ainda que tenha aumentado depois da lei,
não quer dizer que seja por causa da lei. Aliás, dado que o texto é mais brando com o usuário do que a anterior, só se pode concluir que ele não tem relação nenhuma com o anunciado aumento de presos. Pode até haver
consumidores em cana como se fossem traficantes, mas a lei, em si, não
pode estar entre as causas. Se há maus operadores da legislação, esse é
outro problema. Trata-se de um exercício de lógica elementar. Vocês
verão que uma comissão que se envolveu com essa tese reúne, entre
muitos, um grande empresário e dois banqueiros. Não devem lidar com essa lógica nos seus negócios. Ou iriam à falência.
3 – A maioria
desses presos nunca cometeu outros delitos, não tem relação com o crime
organizado e portava pequenas quantidades da droga no ato da detenção.
A Globo deveria submeter esse mimo
da mentira e da estupidez a seu excelente Departamento de Jornalismo
para que seus telespectadores não fossem enganados por uma proposta
tresloucada. O que vai nos itens 2 e 3 não passa de chute, de achismo,
de vigarice intelectual. Faço aqui um desafio: exibam a base de dados. É o mínimo que a emissora campeã de audiência, que detém uma concessão
pública, pode exigir e mostrar. Cadê a pesquisa? Onde estão os dados?
Não existem!
Retomando
A questão das drogas, assim como a
do aborto, é refém de mitômanos, que ficam inventando e divulgando
números que não existem. Até outro dia, espalhava-se aos quatro ventos,
por exemplo, que morriam no Brasil, por ano, 200 mil mulheres vítimas de aborto, lembram-se? Este senhor que vos escreve resolveu fazer uma
continha boba: busquei saber quantos são os mortos por ano no país e
quantos desses mortos são mulheres, identificando as causas, faixa
etária dos óbitos etc. O Ministério da Saúde tem uma base dados. O post
está aqui. Resultado: essa é uma das mentiras mais escancaradas jamais contadas no Brasil. Pararam com essa balela. De janeiro a setembro de 2011,
morreram durante a gestação ou parto 1.038 mulheres. Os aborteiros
multiplicam o número por quase DUZENTOS para que sua causa tenha
visibilidade. O suposto pensamento politicamente correto (o que há de
correto em matar um feto???) adere à causa e sai divulgando a falácia.
A mesma
falácia a que se dá curso no caso das drogas. Esses números não existem! Que eu saiba, a maioria dos quase 500 mil presos brasileiros cometeu
crimes contra o patrimônio, ainda que eventualmente associados ao
tráfico ou ao consumo de drogas. Essa legião de simples consumidores,
todos coitadinhos e réus primários, é uma invenção da turma. A Globo
deve acionar o seu excelente Departamento de Jornalismo antes de cair
nessa esparrela.
Quem apoia e o que se quer?
A campanha tem o apoio da ONG Viva Rio, comandada por Rubens Cesar Fernandes (por que não teria?), da Comissão Brasileira Sobre Droga e Democracia, da Associação Nacional dos Defensores Públicos, da Secretaria Estadual
de Saúde do Rio e da Fundação Oswaldo Cruz. Um dos idealizadores da
iniciativa é Pedro Abramovay, ex-secretário nacional de Justiça,
demitido por Dilma depois que defendeu que os "pequenos traficantes" — e não apenas os usuários de drogas — não fossem presos. Foi a primeira
vez que aplaudi a presidente. Reitero: Abramovay quer liberdade também
para pequenos traficantes e só perdeu o cargo por isso. Referi-me a ele
aqui anteontem. Certas afirmações que não estão amparadas em fatos sobre as drogas podem ser de sua lavra. Ao comentar o Mapa da Violência, por
exemplo, e constatar que, em 10 anos, em São Paulo, houve uma queda de
mais de 80% de mortos entre zero e 19 anos — quando os índices
brasileiros explodiram —, ele não teve dúvida: atribuiu o feito ao… PCC, não à eventual eficiência da política de segurança pública ou à
polícia. Com base em quais dados ou pesquisa ele fez tal afirmação? Ele
não precisa disso! É um rapaz cheio de ideias. Pratica sociologia e
direito criativos.
A campanha da TV, reitero, não deixa claro o que se quer. É a descriminação! Tanto é assim que foi essa a notícia dada pela Folha e reproduzida pelo site do grupo, sem qualquer reparo. Quem noticiou
cheia de entusiasmo o lançamento da campanha foi a revista "SemSemente", dedicada à defesa da legalização da maconha. O texto encerra de modo bastante eloquente (em vermelho):
A veterana Regina Sampaio foi mais
além "Eu venho de uma geração bem atrás, quando o assunto das drogas era bem diferente. Hoje ele é uma questão social. Eu sempre fui contra
radicalismos, para mim tudo que você faz dentro do seu limite é
permitido. Prefiro que meu filho fume maconha do que beba. Tudo que é
exagero faz mal, mas eu acho que a maconha não faz mal para ninguém. É
muito pior um bêbado em casa do que um cara que fuma unzinho na dele."
Após esse depoimento Rubem Cesar encerrou o evento, restando aos poucos
presentes uma mesa farta de croquetes, sanduiches de linguiça e outros
quitutes, devidamente atacada enquanto, em off, se rediscutia tudo que
foi debatido…
Tudo
devidamente compreendido. Não sei quem é Regina Sampaio nem em que ela é "veterana", mas, dado o seu depoimento, fiquei aqui a imaginar. Mas
mais não escrevo.
Estes são os
integrantes da Comissão Brasileira Sobre Drogas e Democracia, segundo
leio em sua página na internet (volto depois):
Paulo Gadelha – Presidente da Fiocruz; Rubem César Fernandes – Diretor
executivo do Viva Rio; Carlos Costa – Liderança Comunitária; Carlos
Velloso – ex-ministro do Supremo Tribunal Federal; Celina Carpi –
Presidente do Movimento "Rio Como Vamos"; Celso Fernandes – Presidente
da Visão Mundial Brasil; Dráuzio Varela – Médico e escritor; Edmar Bacha
– Economista e Ex-Presidente do BNDES; Einardo Bingemer – Coordenador
do Projeto Latino-Americano de Pesquisa sobre Comunidades Terapêuticas
(LATC Research); Ellen Gracie – Ministra do Supremo Tribunal Federal;
Joaquim Falcão – Diretor da Escola de Direito da FGV; João Roberto
Marinho – Vice-presidente das Organizações GLOBO; Jorge Hilário Gouvêa
Vieira – Advogado; Jorge da Silva – Coronel da Polícia Militar do Rio de
Janeiro; José Murilo de Carvalho – Doutor em ciência política,
professor titular do IFCS/UFRJ e membro da Academia Brasileira de
Letras; Lilia Cabral – atriz; Luiz Alberto Gomes de Souza – Sociólogo,
liderança leiga da Igreja Católica; Maria Clara Bingemer – Decana da
Faculdade de Teologia da PUC-Rio; Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça –
Ensaísta e poeta, membro da Academia Brasileira de Letras; Paulo
Teixeira – Deputado Federal; Pedro Moreira Sales – Presidente do
Conselho Itaú Unibanco; Regina Maria Filomena Lidonis De Luca Miki –
Coordenadora do CONSEG e ex-Secretária de Defesa Social da Prefeitura de
Diadema; Regina Novaes – Antropóloga, ex-presidente do Conselho
Nacional de Juventude; Roberto Lent – Neurocientista, doutor em ciências
e professor titular da UFRJ; Rosiska Darcy de Oliveira – Escritora e
co-presidente do movimento "Rio Como Vamos"; Zuenir Ventura –
Jornalista.
Não sei se
alguém dissente da campanha. Consenso em um grupo tão grande é difícil.
Se há dissensões, nada li a respeito — quando eu não concordo com alguma coisa, deixo claro ou caio fora do grupo (caso eu pertencesse a algum — meu grupo é composto de um só; jornalista que pertence a uma turma está querendo é formar quadrilha…). Se ninguém falou nada, então é porque
endossa a propaganda.
Lamento! Essa
gente está ignorando a realidade e o sentimento da esmagadora maioria do povo brasileiro. Não! Não estou entre aqueles que consideram que
maioria ou minoria definem verdade ou mentira. Esse não é o ponto. Fico
aqui a pensar o que pensam as mães e os pais pobres (hoje, são todos de
"classe média", segundo a nova mística) do país, que têm de sair de
casa, deixando seus filhos aos cuidados da escola, dos vizinhos etc. É
evidente que a descriminação das drogas — É O QUE SE QUER, REITERO —
provocará uma elevação do consumo e aumentará as chances de uma criança
ser exposta a substâncias hoje consideradas ilícitas.
A verdade é
que boa parte dos supostos "bem-pensantes" tem sobre o problema uma
abordagem que é, sim, de classe social: imagina-se que, nas periferias
do Brasil, a droga assume as características do consumo recreativo dos
nossos, como direi?, libertários endinheirados. O flagelo do crack está aí, aos olhos de toda gente. Com ele, não há diálogo possível — ou
alguém já descobriu essa pólvora?
Encerro
observando que a campanha que está no ar tem ainda claros componentes
autoritários: busca convencer pela emoção; não deixa claro qual é seu
real propósito e omite a agenda de alguns de seus idealizadores. Na
comissão acima, encontro, por exemplo, o deputado Paulo Teixeira (SP),
atual líder do PT na Câmara. Uma pesquisa rápida na Internet, e vocês
encontrarão este valente a defender o cultivo de maconha em
cooperativas. Segundo ele, isso ajuda a combater o tráfico!!! A coca,
creio, ele deixa para as cooperativas dos companheiros bolivianos… Está
de braços dados com Abramovay, aquele que quer pequenos traficantes fora da cadeia…
Pergunto: uma
campanha defendendo outro ponto de vista teria também lugar na TV, uma
concessão pública, ou não? Em nome da equanimidade, da pluralidade e da
transparência, esse negócio tem de sair do ar.
PS – O lobby de pessoas favoráveis à
descriminação das drogas e de consumidores disfarçados de amigos das
ideias é fortíssimo. Este texto é meu, não da VEJA. Não sei o que a
revista pensa a respeito. Eu respondo por ele, mais ninguém. É muito
tarde, ou muito cedo, para acordar a direção da revista…
PS2 –
Não venham os oportunistas de sempre tentar dar truque aqui e usar o
caso como pretexto para defender, como é mesmo?, "o controle social da
mídia"! Não passarão! Até porque os que querem essa porcaria — Paulo
Teixeira é um deles… — são viciados em outra droga: a droga da ditadura e do autoritarismo.
terça-feira, 24 de julho de 2012
O modo petista de ver as greves (por Reinaldo Azevedo)
"O governo achava que a proposta apresentada é um avanço, mas ela desestrutura a carreira. Queremos a correção das distorções salariais. Se um professor tem a mesma função, tem que ter o mesmo reajuste. A proposta atual é pior do que [a progressão de carreira] a que existe hoje; exige critérios de produtividade para progredir na carreira".
O interessante, morbidamente engraçado, nessa história é que, em São Paulo, a Apeoesp, sob o comando do PT, comandou, em 2010, uma verdadeira guerra contra o programa de qualificação dos professores, que prevê a promoção por mérito. Está na raiz das tentativas de greve que o sindicato tentou, sem sucesso, comandar no estado.
quinta-feira, 5 de julho de 2012
segunda-feira, 2 de julho de 2012
A Marcha da Insensatez
A verdade é que a pregação de Márcio Thomaz Bastos ignora os fatos, ofende a lógica e deseduca o público. De onde ele foi tirar a ideia de que os réus do mensalão estão tendo seus direitos negados por causa da imprensa? O julgamento vai se realizar sete anos após os fatos de que eles são acusados — achar que alguém possa estar sendo prejudicado depois de todo esse tempo para organizar sua defesa é simplesmente incompreensível. Os réus gastaram milhões de reais contratando as bancas de advocacia mais festejadas do Brasil. Dos onze ministros do STF que vão julgá-los, seis foram indicados por Lula, seu maior aliado, e outros dois pela presidente Dilma Rousseff. Um deles, José Antonio Toffoli, foi praticamente um funcionário do PT entre 1995 e 2009, quando ganhou sua cadeira na corte de Justiça mais alta do país, aos 41 anos de idade e sem ter nenhum mérito conhecido para tanto; foi reprovado duas vezes ao prestar concurso para juiz, e esteve metido, na condição de réu, em dois processos no Amapá, por recebimento ilícito de dinheiro público. Sua entrada no STF, é verdade, foi aprovada pela Comissão de Justiça do Senado; mas os senadores aprovariam do mesmo jeito se Lula tivesse indicado para o cargo um tamanduá-bandeira. O próprio ex-presidente, enfim, vem interferindo diretamente em favor dos réus — como acaba de acusar o ministro Gilmar Mendes, com quem teve uma conversa em particular muito próxima da pura e simples ilegalidade. Mas o advogado Bastos, apesar disso tudo, acha que os acusados não estão tendo direito a se defender de forma adequada.
O Brasil é um dos poucos países em que homicidas confessos são deixados em liberdade. O jornalista Antonio Pimenta, por exemplo, matou a tiros sua ex-namorada Sandra Gomide, em 2000, e admitiu o crime desde o primeiro momento; só foi para a cadeia onze anos depois, num caso que a defesa conseguiu ir adiando, sem o apoio de um único fato ou motivo lógico, até chegar ao Supremo Tribunal Federal. Homicidas, quando condenados, podem ter o direito de cumprir apenas um sexto da pena. Se não forem presos em flagrante, podem responder em liberdade a seus processos. Autores dos crimes mais cruéis têm direito a cumprir suas penas em prisão aberta ou "liberdade assistida". Se tiverem menos de 18 anos, criminosos perfeitamente conscientes do que fazem podem matar quantas vezes quiserem, sem receber punição alguma; qualquer sugestão de reduzir esse limite é prontamente denunciada como fascista ou retrógrada pelo pensamento jurídico que se tornou predominante no país. O resultado final dessa convicção de que só poderá haver justiça se houver cada vez mais barreiras entre os criminosos e a cadeia está à vista de todos. O Brasil registra 50 000 homicídios por ano — e menos de 10% chegam a ser julgados um dia.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
terça-feira, 26 de junho de 2012
Velho Nada! Governinho é de bosque!
O GLOBO - 26/06/2012
O governo Dilma Rousseff completa 18 meses. Acumulou fracassos e mais fracassos. O papel de gerente eficiente foi um blefe. Maior, só o de faxineira, imagem usada para combater o que chamou de malfeitos. Na história da República, não houve governo que, em um ano e meio, tenha sido obrigado a demitir tantos ministros por graves acusações de corrupção.
Como era esperado, a presidente não consegue ser a dirigente política do seu próprio governo. Quando tenta, acaba sempre se dando mal. É dependente visceralmente do seu criador. Está satisfeita com este papel. E resignada. Sabe dos seus limites. O presidente oculto vai apontando o rumo e ela segue obediente. Quando não sabe o que fazer, corre para São Bernardo do Campo. A antiga Detroit brasileira virou a Meca do petismo. Nunca tivemos um ex-presidente que tenha de forma tão cristalina interferido no governo do seu sucessor. Lembra o que no México foi chamado de Maximato (1928-1934), quando Plutarco Elias Calles foi o homem forte durante anos, sem que tenha exercido diretamente a presidência. Lá acabou numa ruptura. Em 1935 Lázaro Cárdenas se afastou do "Chefe Máximo" da Revolução. Aqui, nada indica que isso possa ocorrer. Pelo contrário, pode ser que em 2014 o criador queira retomar diretamente as rédeas do poder e mande para casa a criatura.
O PAC - pura invenção de marketing para dar aparência de planejamento estatal - tem como principal marca o atraso no cronograma das obras, além de graves denúncias de irregularidades. O maior feito do "programa" foi ter alçado uma desconhecida construtora para figurar entre as maiores empreiteiras brasileiras. De resto, o PAC é o símbolo da incompetência gerencial: os conhecidos gargalos na infraestrutura continuam intocados, as obras da Copa do Mundo estão atrasadas, o programa "Minha Casa, Minha Vida" não conseguiu sequer atingir 1/3 das metas.
O Nordeste é o exemplo mais cristalino de como age o governo Dilma. A região passa pela seca mais severa dos últimos 30 anos. A falta de chuva já era sabida. Mas as autoridades federais não estavam preocupadas com isso. Pelo contrário. O que interessava era resolver a partilha da máquina estatal na região entre os partidos da base. Duas agências foram entregues salomonicamente: uma para o PMDB (o DNOCS) e outra para o PT (o Banco do Nordeste). E a imprensa noticiou graves desvios nos dois órgãos, que perfazem quase 300 milhões de reais. A "punição" foi a demissão dos gestores. Enquanto isso, desejando mostrar alguma preocupação com os sertanejos, o governo instituiu a bolsa-seca, 80 reais para cada família cadastrada durante 5 meses, perfazendo 400 reais (o benefício será extinto em novembro, pois, de acordo com a presidente, vai chover na região e tudo, magicamente, vai voltar ao normal). Isto mesmo, leitor. Esta é a equidade petista: para os mangões, tudo; para os sertanejos, uma esmola.
Greves pipocam pelo serviço público. As promessas de novos planos de carreiras nunca foram cumpridas. A educação é o setor mais caótico. Não é para menos. Tem à frente o ministro Aloizio Mercadante. Quando passou pelo Ministério da Ciência e Tecnologia nada fez. Só discursou e fez promessas. E as realizações? Nenhuma. Mercadante lembra Venceslau Braz. Durante o quadriênio Hermes da Fonseca, Venceslau foi um vice-presidente sempre ausente da Capital Federal. Vivia pescando em Itajubá. Quando foi alçado à presidência da República, o poeta Emílio de Menezes comentou sarcasticamente: "É o único caso que conheço de promoção por abandono de emprego." Mercadante é um versão século XXI de Venceslau. O sistema federal de ensino superior está parado e vive uma grave crise. O que ele faz? Finge que nada está acontecendo. Quando resolve se manifestar, numa recaída castrense, diz que só negocia quando os grevistas voltarem ao trabalho.
A crise econômica mundial também não mereceu a atenção devida. Como o governo só administra o varejo e não tem um projeto para o país, enfrenta as turbulências com medidas paliativas. Acha que mexendo numa alíquota resolve o problema de um setor. Sempre a política adotada é aquela mais simples. Tudo é feito de improviso. É mais que evidente que o modelo construído ao longo das últimas duas décadas está fazendo água (e não é de hoje). É necessário mudar. Mas o governo não tem a mínima ideia de como fazer isso. Prefere correr desesperadamente atrás do que considera uma taxa de crescimento aceitável eleitoralmente. É a síndrome de 2014. O que importa não é o futuro do país, mas a permanência no poder.
Na política externa, se é verdade que Patriota não tem os arroubos juvenis de Amorim, o que é muito positivo, os dez anos de consulado petista transformaram a Casa de Rio Branco em uma espécie de UNE da terceira idade. A política externa está em descompasso com as necessidades de um país que pretende ter papel relevante na cena internacional. O Itamaraty transformou-se em um ministério marcado por derrotas. A última foi na Rio+20, quando, até por ser a sede do evento, deveria exercer não só um papel de protagonista, como também de articulador. A nossa diplomacia perdeu a capacidade de construir consensos. Assimilou o "estilo bolivariano", da retórica panfletária e vazia, e, algumas vezes, se tornou até caudatária dos caudilhos, como agora na crise paraguaia.
O governo Dilma parece velho, sem iniciativa. Parodiando o poeta: todo dia ele faz tudo sempre igual. E saber que nem completou metade do mandato. Pobre Brasil.
sexta-feira, 22 de junho de 2012
UNE, defensora de facínoras
Quando a bandeira na UNE não cobre a malversação de dinheiro público, está endossando a repressão, a violência e a morte. Faz sentido!
quarta-feira, 20 de junho de 2012
A vingança maligna de Maluf (Editorial do Estadão)
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Olá, Coronel !!!
quinta-feira, 31 de maio de 2012
A arquitetura ridícula modernista
Vamos demolir aquele horrendo hotel do Niemeyer que não combina com nada em Ouro Preto???
***
EUA: demolição ou preservação de prédios modernos "feios"?
quarta-feira, 30 de maio de 2012
Acorda, Lewandowiski!!!
terça-feira, 29 de maio de 2012
Efeito colateral
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Discurso de Alvaro Dias contra a chantagem de Lula
Se a atitude do ex-Presidente não tem nada de republicana, certamente a denúncia formulada pelo Ministro Gilmar Mendes é republicana. E teve ele o cuidado de imediatamente comunicar ao Presidente Carlos Ayres Britto do Supremo Tribunal Federal o ocorrido. Essa tentativa de chantagear, essa tentativa de manipular politicamente uma comissão parlamentar de inquérito para alcançar objetivos escusos tem de ser repudiada. E é o que pretendemos com uma representação que vamos encaminhar ao Procurador-Geral da República.
Ainda há juízes em Berlim
sábado, 26 de maio de 2012
Lula - Capo di tutti capi
Caras e caros, o que vai abaixo é muito grave. Espalhem a informação na rede, debatam, organizem-se em defesa da democracia. O que se vai ler revela uma das mais graves agressões ao estado de direito desde a redemocratização do país. - Reinaldo Azevedo
Luiz Inácio Lula da Silva perdeu completamente a noção de limite, quesito em que nunca foi muito bom. VEJA publica hoje uma reportagem estarrecedora. O ex-presidente iniciou um trabalho direto de pressão contra os ministros do Supremo para livrar a cara dos mensaleiros. Ele nomeou seis dos atuais membros da corte — outros dois foram indicados por Dilma Rousseff. Sendo quem é, parece achar que os integrantes da corte suprema do país lhe devem obediência. Àqueles que estariam fora de sua alçada, tenta constranger com expedientes ainda menos republicanos. E foi o que fez com Gilmar Mendes. A reportagem de Rodrigo Rangel e Otavio Cabral na VEJA desta semana é espantosa!
Lula, acreditem, supondo que Mendes tivesse algo a temer na CPI do Cachoeira, fez algumas insinuações e ofereceu-lhe uma espécie de "proteção" desde que o ministro se comportasse direitinho. Expôs ainda a forma como está abordando os demais ministros. Leiam trecho. Volto em seguida.
(…)
Há um mês, o ministro Gilmar Mendes, do STF, foi convidado para uma conversa com Lula em Brasília. O encontro foi realizado no escritório de advocacia do ex-presidente do STF e ex-ministro da Justiça Nelson Jobim, amigo comum dos dois. Depois de algumas amenidades, Lula foi ao ponto que lhe interessava: "É inconveniente julgar esse processo agora". O argumento do ex-presidente foi que seria mais correto esperar passar as eleições municipais de outubro deste ano e só depois julgar a ação que tanto preocupa o PT, partido que tem o objetivo declarado de conquistar 1.000 prefeituras nas urnas.
(…)
Interrompo para destacar uma informação importante. Na conversa, Lula insinuou que Mendes manteria relações não-repubicanas com o senador Demóstenes Torres. Quando ouviu do interlocutor um "vá em frente porque você não vai encontrar nada", ficou surpreso. Segue a reportagem de VEJA. Retomo depois:
A certa altura da conversa com Mendes. Lula perguntou: "E a viagem a Berlim?". Ele se referia a boatos de que o ministro e o senador Demóstenes Torres teriam viajado para a Alemanha à custa de Carlos Cachoeira e usado um avião cedido pelo contraventor. Em resposta, o ministro confirmou o encontro com o senador em Berlim, mas disse que pagou de seu bolso todas as suas despesas, tendo como comprovar a origem dos recursos. "Vou a Berlim como você vai a São Bernardo. Minha filha mora lá", disse Gilmar, que, sentindo-se constrangido, desabafou com ex-presidente: "Vá fundo na CPI". O ministro Gilmar relatou o encontro a dois senadores, ao procurador-geral da República e ao advogado-geral da União.
Sabem o que é impressionante? A "bomba" que Lula supostamente teria contra Mendes começou a circular nos blogs sujos logo depois. O JEG — a jornalismo financiado pelas estatais — pôs para circular a informação falsa de que Mendes teria viajado às expensas de Cachoeira. Muitos jornalistas sabem que o ex-presidente está na origem de boatos que procuravam associar o ministro ao esquema Cachoeira. Ou por outra: Lula afirma ter o "controle político" da CPI e parece controlar, também, todas as calúnias e difamações que publicadas na esgotosfera. Sigamos.
Lula deixou claro que está investindo em outros ministros da corte. Revelou já ter conversado com Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão — só depende dele o início do julgamento — sobre a conveniência de deixar o processo para o ano que vem. Sobre José Antônio Dias Toffoli, foi peremptório e senhorial: "Eu disse ao Toffoli que ele tem de participar do julgamento". Qual a dúvida? O agora ministro já foi advogado do PT e assessor de José Dirceu; sua namorada advoga para um dos acusados. A prudência e o bom senso indicam que se declare impedido. Lula pensa de modo diferente — e o faz como quem tem certeza do voto. Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo e um dos porta-vozes informais do chefão do PT, já disse algo mais sério: "Ele não tem o direito de não participar".
A ministra Carmen Lúcia, na imaginação de Lula, ficaria por conta de Sepúlveda Pertence, ex-ministro do STF e atual presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República: "Vou falar com o Pertence para cuidar dela". Com Joaquim Barbosa, o relator, Lula está bravo. Rotula o ministro de "complexado". Ayres Britto, que vai presidir o julgamento se ele for realizado até novembro, estaria na conta do jurista Celso Antonio Bandeira de Mello, amigo de ambos, que ficaria encarregado de marcar a conversa. Leia mais um trecho da reportagem
Ayres Britto contou que o relato de Gilmar ajudou-o a entender uma abordagem que Lula lhe fizera uma semana antes, durante um almoço no Palácio da Alvorada, onde estiveram a convite da presidente Dilma Rousseff. Diz o ministro Ayres Britto: "O ex-presidente Lula me perguntou se eu tinha notícias do Bandeirinha e completou dizendo que, "qualquer dia desses, a gente toma um vinho". Confesso que, depois que conversei com o Gilmar, acendeu a luz amarela, mas eu mesmo tratei de apagá-la". Ouvido por VEJA, Jobim confirmou o encontro de Lula e Gilmar em seu escritório em Brasília, mas, como bom político, disse que as partes da conversa que presenciou "foram em tom amigável". VEJA tentou entrevistar Lula a respeito do episódio. Sem sucesso, enviou a seguinte mensagem aos assessores: "Estamos fechando uma matéria sobre o julgamento do mensalão para a edição desta semana. Gostaríamos de saber a versão do ex-presidente Lula sobre o encontro ocorrido em 26 de abril, no escritório do ex-ministro Nelson Jobim, com a presença do anfitrião e do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, no qual Lula fez gestões com Mendes sobre o julgamento do mensalão". Obteve a seguinte frase como resposta: "Quem fala sobre mensalão agora são apenas os ministros do Supremo Tribunal Fe¬deral". Certo. Mas eles têm ouvido muito também sobre o mensalão".
É isso aí. Não há um só jornalista de política que ignore essas gestões de Lula, sempre contadas em off. Ele mesmo não tem pejo de passar adiante supostas informações sobre comprometimentos deste ou daquele. Desde o início, estava claro que pretendia usar a CPI como instrumento de vingança contra desafetos — inclusive a imprensa — e como arma para inocentar os mensaleiros.
As informações estarrecedoras da reportagem da VEJA dão conta da degradação institucional a que Lula tenta submeter a República. Como já afirmei aqui, ele exerce, como ex-presidente, um papel muito mais nefasto do que exerceu como presidente. O cargo lhe impunha, por força dos limites legais, certos impedimentos. Livre para agir, certo de que é o senhor de ao menos seis vassalos do Supremo (que estes lhe dêem a resposta com a altivez necessária, pouco impota seu voto), tenta fazer valer a sua vontade junto àqueles que, segundo pensa, lhe devem obrigações. Aos que estariam fora do que supõe ser sua área de mando, tenta aplicar o que pode ser caracterizado como uma variante da chantagem.
Tudo isso para reescrever a história e livrar a cara de larápios. Mas também essa operação foi desmascarada. Por VEJA! Por que não seria assim?
Nem a ditadura militar conseguiu do Supremo Tribunal Federal o que Lula anseia: transformar o tribunal num quintal de recreação de um partido político.